domingo, 18 de maio de 2014

É A EDUCAÇÃO ESTÚPIDO!

É A EDUCAÇÃO, ESTÚPIDO !

   O homem não é nada além daquilo que a educação faz dele
                                                              Kant

Peço desculpas ao leitor pela falta de educação do título do artigo. É que foi obrigatória a alusão à famosa frase de James Carville, o marketeiro de Bill Clinton que o levou à vitória contra o pai de George Bush que buscava a reeleição com base em seus feitos bélicos. Carville entrou para a história por ser autor de uma frase estúpida.
Minha proposta é questionar sobre o que é mais importante para efeito do futuro de um país: o foco na economia ou na educação?
     Eu diria que não é o foco na economia, especialmente porque a ciência econômica contemporânea está fundamentada em determinadas instituições e teorias. Se colocarmos uma excelente "equipe econômica" no comando da economia de um país, o sucesso dessa equipe será medido pelos índices de inflação, de desemprego, pelo nível do superávit primário, pela gangorra da balança comercial, e pelo balanço de pagamentos, e pela sucessão de recessão ou aquecimento induzidos.      Tais objetivos fazem parte da "fisiologia" da economia, obedecem a uma filosofia que privilegia mais o mercado que a sociedade; mais a economia que a política, economia que peca pelo "economicismo" (Luiz Werneck Vianna). O sucesso da equipe econômica resulta naquela situação em que o general Garrastazu Médici diagnosticou: "A economia vai bem mas o povo vai mal". Isso ocorre porque está institucionalizada uma situação em que nosso país vem sendo governado sem partir de um projeto nacional-popular. Segundo Fernando Henrique Cardoso "projeto de país" é um tema ultrapassado, o Brasil segundo ele já está "projetado" e o que nos resta é fazer parte do jogo.
    Entrementes se o Brasil está desenhado por um "projeto de país" com certeza não não é um projeto nosso, de interesse do povo brasileiro. Se o povo brasileiro desse palpite quando nosso projeto de país estivesse sendo escrito, jamais assinaria um documento em que se prioriza juntar dinheiro para pagar juros do esquema de agiotagem da Dívida Pública e deixa o povo sem saneamento básico. Não assinaria igualmente um projeto que não assegurasse uma sólida educação de base que preparasse o povo para a ascensão em matéria de ciência e tecnologia. É por falta de um projeto nosso que o Brasil não consegue sequer sair da estaca zero que seria acabar com o analfabetismo. O projeto que está em vigor e do qual o povo não participa faz com que o Brasil se agigante sobre pés de barro. Parafraseando Zuenir Ventura uma nação partida.
    O foco na educação não é novidade. Os gregos antigos que inauguraram a filosofia ocidental colocavam o projeto paideia acima de tudo. Por paideia entenda-se a formação do homem grego. A princípio o projeto educacional grego visava o ideal  mens sana in corpore sano, depois evoluiu para formar o cidadão, segundo Platão: "um cidadão preparado para governar e ser governado tendo a justiça por fundamento". Aqui no Brasil nós teríamos um esboço de paideia se tivesse vingado o projeto dos CIEPS de Leonel Brizola, escola pública de qualidade de turno integral. A atual situação de escola pública sucateada para obrigar a classe média a pagar pelo ensino de seus filhos faz parte da realização de um projeto de Brasil que não é o do nosso povo.  O foco na educação implica em assumir uma unidade cognitiva e moral básica aos processos de construção nacional. O povo brasileiro nunca foi chamado a sentar na mesa para redigir um projeto que leve em conta os seus interesses porque nossa burguesia retardatária na industrialização do país preferiu um projeto escrito a quatro mãos com o latifúndio, daí que a reforma agrária nunca foi cogitada. 
   Um projeto de país pressupõe a existência de um país: território, povo e cultura. Mas o somatório dos fatores que compõem um país resulta numa nação amorfa. E continará uma nação amorfa, uma nação "maria vai com as outras" se for orientada por um projeto de país escrito por sua elite associada com interesses estrangeiros, caso do Brasil até hoje.
 É o projeto pedagógico é a paideia que confere ao país caráter e personalidade,"unidade cognitiva e moral". Os Estados Unidos promoveram a universalização do ensino fundamental no século XIX, em 1865. A China apenas mais de um século depois, nos anos 80 do século XX é que promoveu a universalização do acesso à escola e a erradicação do analfabetismo. A Coreia do Sul no final do século XX também erradicou o analfabetismo e colocou 82% dos seus jovens na universidade. O Brasil mesmo no terceiro milênio ainda está na estaca zero, amarga a convivência com 13% de analfabetos. A China hoje se orgulha de ser o primeiro lugar no ranking da PISA (Programa Internacional de Avaliação de Alunos) e está empenhada em criar 100 universidades de nível internacional. A Coreia não faz por menos e trabalha com o objetivo de simplesmente ultrapassar o Japão. Pelo ranking da PISA o Brasil figura na 55ª posição em leitura, 58ª em matemática e 59ª em ciências. Isso num universo de apenas 65 países.
 Mas nem tudo está perdido. As manifestações de junho de 2013 revelaram que o povo brasileiro está maduro para participar da elaboração do projeto de país de sua autoria. Um projeto de país que privilegie a saúde e a educação e que demande no futuro menos médicos e policiais, e menos presídios e hospitais.
    
  

quinta-feira, 1 de maio de 2014

NÃO SOMOS MACACOS

"Não somos macacos"(Texto reproduzido do Boletim do Chico Alencar deputado do P-SOL)

          Só se falou nisso durante toda a semana. O brasileiro Daniel Alves, jogador do Barcelona, driblou de forma genial um insulto racista: comeu uma banana atirada contra ele por torcedores rivais.
Até aí, tudo muito bom. A polêmica veio quando Neymar divulgou um vídeo que lançava a campanha 'Somos Todos Macacos'. Diversas celebridades aderiram. Entre os muitos apoiadores, um fato: pouquíssimos negros.
Logo vazou a notícia de que a campanha havia sido produzida por uma agência de publicidade. Na sequência, a grife de Luciano Huck lançou uma camisa, que está à venda. Mas a coisa começou a se mostrar complicada mesmo quando setores da direita mais conservadora - que por diversas vezes flertam com o racismo! - também apoiaram a ação.
Fomos olhar o outro lado e vimos que os movimentos negros e pessoas que debatem o racismo se posicionaram de forma praticamente unânime contra a campanha. Reconhecem a boa vontade de Neymar, mas questionam a mensagem.
São muitos os argumentos: não podemos banalizar os atos racistas, não podemos vender a ilusão de que todos são tratados iguais em uma sociedade desigual, não podemos achar que o combate ao racismo se faz simplesmente por meio de hashtags irrefletidas. Não podemos esquecer que o racismo não é fato excepcional: negros e negras recebem, no dia a dia, mais do que bananas e ofensas. Há uma cor - e uma classe! - que são privadas de direitos e que são alvo privilegiado da violência. Exemplos, não faltam.
O Mandato Chico Alencar separou quatro textos que nos ajudam a refletir sobre o assunto. Boa leitura! [Textos: A bananização do racismo/Ana MªGonçalves;Contra o racismo nada de bananas.../NegroBelchior;Macacos e vadias/Luka.
COMENTÁRIO: Parece que o Incêndio do Reichstag não foi obra dos nazistas, mas Hitler espertíssimo e oportunista capitalizou o fato para concentrar poder. Esse fato mencionado acima envolveu um torcedor racista ridículo que recebeu uma resposta genial do Daniel Silva de um 'fair play' inenarrável. A resposta do jogador deveria ter sido suficiente para abafar o fato. O próprio Daniel contou que usou de humor diante dos ridículos racistinhas. Mas alguns espertalhões capitalistas aproveitaram o fato para ganhar dinheiro. O Neimar pode ter sido exortado a fazer o que fez, por amizade, ou ter feito o papel de um inocente útil. O fato é que descobriu-se que o mote "Somos todos macacos" foi criado por um marketeiro. "Coincidentemente" o Luciano Hulk lança uma camiseta para a campanha a 60 reais cada. A gente sabe o que capitalistas são capazes de fazer para ganhar dinheiro: criar um factóide que gere uma demanda é prova de uma fina inteligência empresarial.
DIGRESSÃO FINAL. Certa vez Leonel Brizola conseguiu na justiça um direito de resposta que obrigou a TV Globo ler um editorial escrito pelo engenheiro. Quem leu o "tijolaço" brizolista foi Cid Moreira. Brizola comentou que "O bugio branco" lera o texto melhor do que ele o faria. Cid Moreira poderia ter processado Brizola, mas não o fez. Se o fizesse seria por causa de baixa auto-estima.